Após soco na cabeça, ele sofreu traumatismo craniano e teve que parar de jogar. Depois de tudo, Régis vai se formar na faculdade
Uma agressão mudou a vida de Régis. Então com 21 anos e cheio de sonhos, o zagueiro levou um soco quando jogava pelo Caxias na Copa Mais Fácil, em 1999. Sobreviver ficou difícil: traumatismo craniano, 29 dias em coma e fim de carreira. Hoje, aos 33 anos e nota máxima em superação, Régis está prestes a receber o diploma do curso de educação física em uma faculdade de Gravataí (RS), onde mora.
– Já apresentei o trabalho de conclusão e foi muito difícil. O tema foi “Violência no futebol: um relato de experiência”. O diretor da faculdade estava lá e ele ficou emocionado. Até chorou. Acho que estou aprovado, né? – conta Régis, sorrindo. Voltar a sorrir não foi fácil. Após 12 anos, o ex-zagueiro ainda tem dificuldade em relatar o drama sofrido depois de acordar do coma. As marcas no estilo de vida e no corpo – como a cicatriz da traqueostomia (cirurgia feita no pescoço para facilitar a respiração) – não o deixam esquecer.
– Tentei voltar a jogar várias vezes. No começo da recuperação, acordava de madrugada e ficava louco para sair. Não dormia direito. Era horrível. Minha mãe ficava me vigiando. Por causa da lesão, perdi a coordenação motora. Ainda jogo pelada, mas é só – conta Régis, que fez dois anos de fisioterapia e ainda precisa tomar remédio para evitar convulsões, uma das consequências da lesão na cabeça.
Mesmo com saudade do tempo em que jogava, Régis tem uma certeza: sua vida profissional será fora do mundo do futebol.
– Não sei em que área vou atuar ainda. Mas no futebol não será. As relações entre as pessoas são complicadas. Só quem esteve lá sabe como é – diz o ex-zagueiro, que chegou a fazer estágios no Aimoré e no Cerâmica, ambos clubes gaúchos.
Régis, que vai se formar no meio do ano, tem metas para realizar a curto prazo e o coração, que vai muito bem, está envolvido.
– Quero trabalhar, sair da casa dos meus pais e dar uma vida boa para minha noiva – diz Régis, que dá palestras sobre violência no esporte e ainda completa:
– Cara, um milagre aconteceu na minha vida.
Ex-zagueiro pede rigor ao STJD
Mesmo torcendo pelo Internacional, mas sendo exemplo do estrago que a violência no futebol pode trazer, Régis é a favor de punições severas, como a dada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) ao zagueiro Bolívar, em primeira instância.
– A Justiça tem que ser assim. Os jogadores não agrediriam mais se a punição fosse exemplar como esta. Acho que os tribunais são brandos demais – afirmou Régis, ao comentar a decisão de tirar Bolívar dos gramados enquanto o lateral-esquerdo Dodô se recuperar do rompimento no ligamento do joelho esquerdo (seis meses).
Régis – se fosse treinador do zagueiro Darzoni, de quem levou o soco na cabeça – disse que seria mais radical ainda com atitudes violentas no seu time:
– Eu mandaria embora na mesma hora. Aquilo não se faz. Eu sei que eu falava muito quando jogava, mas nada justifica.
Agressor foi condenado, mas jogará Gauchão-2012
Darzoni, autor do soco em Régis quando atuava pelo Santo Ângelo, chegou a ser condenado a dois anos de prisão em regime aberto. Indagado, o zagueiro não quis falar muito sobre o assunto, apenas lamentou ter ficado marcado.
– Por conta daquilo que aconteceu, fiquei fora do futebol por dois anos. Foi uma fatalidade e fiquei marcado por isso. Infelizmente, ninguém vê o que eu tenho feito no futebol nos últimos anos. Se olhar para minha carreira, verão que fui poucas vezes expulso – relatou o jogador, antes de desligar o telefone.
Ao contrário de Régis, a carreira de Darzoni ainda continua. Para 2012, aos 34 anos, ele já tem clube para jogar: o Internacional, de Santa Maria, da Primeira Divisão gaúcha, onde foi formado.
O presidente do Inter, Mauro Martins, dá total apoio ao jogador.
– Ele já pagou pelo que fez. Aqui é o porto seguro do Darzoni.
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